Se você navega na internet e está atenta às notícias sobre tecnologia, já está ciente de que dados pessoais são cada vez mais expostos e menos privados. Através de algoritmos que rastreiam cada uma de suas preferências e moldam sua experiência virtual, a web coloca em risco não apenas sua privacidade, mas sua saúde mental. Entenda com informações da “Glamour”.
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O rastreamento de todos os aspectos da vida de uma pessoa através da tecnologia pode ser tóxico de maneiras inimagináveis. “A privacidade cerceia necessidades psicológicas importantes, como a capacidade de recomeçar e se recuperar de contratempos”, explica o professor de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Elias Aboujaoude. “É difícil atender a essas necessidades se estivermos constantemente sob um microscópio, mas é assim que estamos graças às mídias sociais e empresas cujo modelo de negócios é minerar e vender incessantemente nossos dados pessoais”, completa.
Sandra Wachter, professora do Instituto de Internet da Universidade de Oxford, no Reino Unido, afirma ser impossível evitar a coleta de dados, e assegura que nem mesmo os mais cautelosos estão a salvo. “Grandes empresas estão cientes de que ninguém tem tempo para revisar termos e condições de uso. Os algoritmos e as leis que os regulam são desenvolvidos para controlar quem tem acesso aos dados, mas não controlam o que acontece após eles serem coletados”, declara.
Mesmo que você não tenha nada a esconder, a coleta de seus dados ainda pode ser prejudicial. Cada informação é analisada pelos algoritmos e correlações são detectadas, fazendo com que informações que você nunca forneceu — como gênero, orientação sexual, etnia, religião e posicionamento político — sejam utilizadas de forma a te privar de certos anúncios e informações.
Uma pesquisa da “European Digital Rights” mostrou que anúncios digitais discriminatórios direcionaram oportunidades de moradia e emprego a determinadas raças, status socioeconômicos e gênero. “Esses são exemplos de como colocar sua privacidade em risco se torna um risco de discriminação”, explica a professora. “Você pode perder oportunidades sem estar ciente e possuir pouca proteção. É difícil controlar o que as pessoas sabem sobre você, porque você não sabe o que seus dados dizem, então não pode entender totalmente as consequências”.
Além disso, sua saúde mental pode ser comprometida quando você sente uma pontada de ansiedade ao notar um anúncio que parece ter sido assustadoramente direcionado a você, ou ao ler manchetes sobre as infrações de privacidade cometidas por gigantes da tecnologia. De qualquer forma, estar ciente da violação de seus dados pessoais diminui a segurança emocional proporcionada pela privacidade.
No entanto, você ainda pode proteger seus dados e sua saúde mental, adotando atitudes que não envolvem parar de navegar na internet. “Evite a armadilha derrotista que sugere que nada pode ser feito”, recomenda Elias. “Pense em sua saúde mental: desistir do controle dos detalhes que nos tornam quem somos é enfraquecedor e psicologicamente desestabilizador”.
Personalize suas configurações para se proteger
Quando sites ou programas oferecem a opção de personalizar configurações de privacidade — geralmente quando você se cadastra ou baixa uma atualização — opte por não usar recursos invasivos desnecessários. Habilite serviços de geolocalização apenas quando o aplicativo está em uso, em vez de o tempo todo. E ao desabilitar a configuração “sempre exibir imagens externas” em seu e-mail, você pode impedir que rastreadores detectem quando você abre mensagens.
Limpe sua pegada digital
Analise cuidadosamente a necessidade de manter perfis públicos em suas redes sociais — suas contas podem ser protegidas. Revise os aplicativos, programas e complementos baixados em seus aparelhos, desinstale aqueles que você não usa e limpe regularmente o cache e os cookies de seu navegador. Alguns bancos e serviços de verificação de crédito possuem serviços de alerta sobre violações de dados e senha, cadastre-se neles sempre que possível.
Engaje no assunto
Elias defende a necessidade da legislação a favor do internauta, e quanto mais pessoas se envolverem no assunto, melhor. “Precisamos fazer com que as pessoas, velhos e jovens, se interessem pela proteção da privacidade”, acrescenta Sandra.